O desemprego no Brasil é o mais baixo desde 2002, quando o IBGE adotou a forma atual de calcular a taxa. Com tantas vagas disponíveis, estão em falta caminhoneiros, pedreiros, mecânicos, engenheiros e uma infinidade de profissionais nas mais variadas áreas.
Durante esta semana, o Jornal Nacional vai exibir uma série especial de reportagens sobre o mercado de trabalho no país. E hoje você vai conhecer os lugares em que só fica sem trabalho quem não quer sair de casa.
É longe: Rondônia, no Norte do país. Partimos da capital, Porto Velho, seguimos o Rio Madeira e, em plena floresta amazônica, encontramos um gigantesco canteiro de obras: Jirau, a hidrelétrica erguida por um formigueiro de operários.
“Vim atrás de serviço, realmente achei”.
“Ultimamente não poderia ser melhor”.
A construção civil está mesmo na melhor fase das últimas duas décadas no Brasil. “A pessoa fica desempregada se não tiver coragem de sair de dentro de casa”, afirma o armador José de Souza Silva.
São 20 mil trabalhadores, do pedreiro ao engenheiro. Douglas, de 22 anos, formou-se em fevereiro do ano passado e em março já estava contratado. “Geralmente todo engenheiro já sai da faculdade empregado”.
E seguindo uma tendência nacional, também cresce a oferta de vagas para elas. Mesmo em setores que tradicionalmente só empregavam homens. “No meu trabalho, eu gosto de dirigir”, diz uma motorista de caminhão.
No Brasil, as mulheres já representam 45% dos trabalhadores. Em Jirau, elas são quatro mil contratadas.
“Tem muita gente hoje da região que não tinha expectativa nenhuma de emprego e a usina proporcionou”, conta a caminhoneira Dinorá dos Santos Braga.
As obras que surgem em todo país são como um termômetro do crescimento econômico. Públicas ou da iniciativa privada, elas não geram emprego só na construção. Fazem parte de uma cadeia produtiva. Os salários pagos fazem girar dinheiro e o resultado é mais carteira assinada Brasil afora.
Pra alimentar tantos operários, um restaurante gigante. Eliana foi contratada como cozinheira. Era dona de casa. “Esse é o meu primeiro emprego. Foi ótimo”.
Com o salário, ela comprou eletrodomésticos, trocou o piso e o forro da casa. O aumento do consumo movimenta o comércio do lugarejo onde ela mora.
“Aumenta o número de funcionários na hidrelétrica e aumenta o número de cliente no supermercado e automaticamente a gente precisa contratar mais funcionário pra poder atender”, diz o empresário Alfredo Paulo de Oliveira.
A loja de material de construção dobrou o número de empregados. “A gente consegue um funcionário, quando ele começa a ficar bom, começa a pegar o jeito, aí logo ele já encontra outra oferta de trabalho”, diz a vendedora Patricia Apolinário.
Este também é o cenário nas outras regiões do país. Grandes empresas ouvidas pela Fundação Dom Cabral revelaram como está o mapa do emprego.
A escassez de mão de obra varia de acordo com o tipo de atividade econômica que mais cresce em cada região do país. No Nordeste, 36% das empresas disseram que estão penando pra contratar supervisores, que são líderes, coordenadores de equipes.
No Sudeste, 31% disseram que o problema é a falta de profissionais de operação, que são operários nas indústrias, vendedores nas lojas, recepcionistas nos escritórios, por exemplo.
Na Região Sul, a dificuldade é pra conseguir engenheiros. Foi a reclamação de 27% das empresas. E, no Centro-Oeste, falta de operário a supervisor. Segundo a pesquisa, as grandes empresas encontram a mesma dificuldade pra contratar profissionais em todos os níveis de formação. É o retrato de um país que não se preparou o suficiente para o desenvolvimento.
“Quando a economia brasileira se estabilizou, o parque industrial brasileiro, os setores da economia do Brasil investiram muito em equipamentos, em tecnologia, mas esqueceu do ser humano. O Brasil está descobrindo que máquina é acessório pro ser humano e não o ser humano como um penduricalho da máquina”, disse Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral.
A taxa de desemprego caiu quase pela metade desde 2003. Justamente quando Seu Marcelino imaginava deixar as construções. Mas... “Constantemente tem uma proposta”.
As empresas não conseguem renovar a mão de obra no ritmo que precisam. Profissional qualificado e experiente é raridade.
“Aposentei, mas não consegui parar de trabalhar. Espero não parar tão cedo. Nem quero”, disse o armador Marcelino Gomes.
Na reportagem desta terça, você vai ver que a melhora do mercado de trabalho trouxe de volta brasileiros que tinham migrado em busca de emprego no exterior.